Nasci há 23 anos no dia 23 de Setembro de 1995, no Hospital de Guimarães (Sra. Oliveira).
Na maternidade tudo estava a correr bem, tudo perfeito... até ao meu nascimento. Fiz o teste do pezinho (como é normal em todas as crianças recém-nascidas) e passados 15 dias os meus pais receberam uma chamada do Instituto de genética médica Dr. Jacinto Magalhães no Porto a dizer que havia uma alteração no teste e para comparecem lá.
Foi nesse momento que os meus pais souberam que eu tinha uma doença crónica genética e que toda a alimentação iria mudar – eu tinha (e tenho) Fenilcetonúria (PKU).
O nome assustou logo! Um nome estranho e difícil de pronunciar. Ia ter uma alimentação diferente para toda a minha vida e se não fizesse esse tratamento ia ter graves consequências, nomeadamente atraso mental.
Na altura não havia quase ninguém com esta doença, daí os meus pais não terem muita ajuda. A ajuda que tinham era dos médicos. E eu tinha também uma prima, alguns anos mais velha do que eu, que também tinha a doença.
Para os meus pais tudo aquilo era assustador, até mesmo um pouco confuso. Toda a minha alimentação era medida grama a grama. Era rigorosamente tudo pesado. Cresci e entrei para a pré-escola onde tudo correu bem, andei na pré dois anos. Entrei com 5 anos para a escola primária e começou o meu desafio. Soube fazer a minha alimentação sozinho muito cedo, soube desde cedo o que podia e o que não podia comer e, portanto, cresci rápido demais. Mas NUNCA tive vergonha da minha alimentação. Entrei para o ATL aos 10 anos de idade e comecei a ser vítima de bullying (físico): deram-me uma tareia (um grupo de rapazes cujos 2 são meus amigos hoje) e aquilo marcou-me. Com 12 anos entrei para o 5º ano, aí tudo piorou. Era uma escola grande, diferente, mais exigente e crianças muito maldosas. Nas festas da escola eu gostava de me apresentar a dançar juntamente com uma amiga minha. Andei até ao 6º ano a dançar em festas, até que comecei a ser vítima de bullying verbal. A alimentação, na hora de almoço, era diferente da dos ditos “normais”, outros colegas ajudavam-me muito e diziam que era vegetariano, para não ligar. Assim o fiz, sem vergonha nenhuma, mas na altura em que sofri de bullying por causa de gostar de dançar e por causa de comer diferente não foi fácil. Como disse, crianças muito maldosas. Entrei para o 10º ano e aí tudo ficou mais fácil, toda a gente percebeu que eu era "diferente" e queriam perceber o porquê. Na verdade, eu só sou diferente à hora das refeições. O que me ajudou, e muito, a lidar com tudo isto foi ter começado a participar em atividades da APOFEN.
A APOFEN é a associação de doentes com fenilcetonúria e outras doenças hereditárias do metabolismo das proteínas e organiza todos os anos algumas atividades para nós, para podermos conviver todos e onde aprendemos sempre mais (Campos de Férias, Encontros Nacionais de Famílias, Encontros Regionais, vais também às escolas dos doentes quando é necessário fazer ações de sensibilização, enfim). Nestas atividades partilhamos experiências e vivemos algo único. Realmente é difícil de explicar o que acontece nestas atividades porque é sentido, somos uma família. E é essa família que ainda hoje me acompanha e com quem partilho os meus sucessos.
A APOFEN foi fundamental para a minha adaptação à doença, tal como a minha família: os meus pais e a minha irmã! Outra pessoa que me ajudou e muito a lidar com tudo isto foi o meu professor de zumba. No ginásio andei em aulas de zumba e o meu instrutor ensinou-me muito! Ensinamentos que não tiveram a ver com o zumba, mas sim com a vida e com a forma de lidar com a vida e com as adversidades da vida. Ele é a minha inspiração! Entretanto, fiz uma formação de instrutor de zumba e hoje dou algumas (muitas) aulas. Ainda não consigo fazer disto o meu trabalho a tempo inteiro, mas as coisas estão bem encaminhadas, em breve haverá novidades! Neste momento, além de trabalhar numa fábrica e dar aulas de zumba, estou também a fazer um curso de técnico especialista de exercício físico.